sexta-feira, 31 de março de 2017

Ifemelu pousou a cabeça...

Karen Cooper

“Ifemelu pousou a cabeça contra a de Obinze e sentiu, pela primeira vez, o que sentiria em muitas outras ocasiões com ele: uma autoafeição. Ele fazia com que ela gostasse de si mesma. Com Obinze, Ifemelu se sentia confortável; era como se sua pele fosse do tamanho certo. Contou a ele como queria muito que Deus existisse, mas temia que não existisse, como se preocupava com o fato de que devia saber o que queria fazer da vida, mas nem sabia o que queria fazer na faculdade. Parecia tão natural conversar com ele sobre o que lhe viesse à cabeça. Ifemelu nunca tinha feito isso antes. A confiança tão súbita, mas tão completa, e a intimidade a assustavam.”

(Chimamanda Ngozi Adichie, no livro Americanah)

quinta-feira, 30 de março de 2017

Aqui o vento deposita...

Georges Wambach
(Praia de Itapuã)

“Aqui o vento deposita diária colheita de areia, a mais alva, a mais fina, escolhida a propósito para formar a praia singular de Mangue Seco, sem comparação com nenhuma outra, aqui onde a Bahia nasce na convulsa conjunção do rio Real com o oceano.”

(Jorge Amado, em Tieta do Agreste)

quarta-feira, 29 de março de 2017

Aniversário de Salvador - 468 anos

Jayme Horta
(Igreja do Rosário dos Pretos, Pelourinho)



Salvador, Bahia
Território africano
Baiano sou eu, é você, somos nós uma voz de tambor
Oxente
'Cê num' tá vendo que a gente é nordeste
Cabra da peste, sai daí batucador quem foi seu mestre
Capoeira

Se plante, lá vem rasteira, pé de ladeira
Preciso da fé no Senhor do Bonfim
Pra mim, pra você, pra mim

Um chinelo de couro
Uma bata, uma benção, mais cinquenta centavos de som
Aumenta o som!

Africa Iô iô
Salvador, minha cor
A raiz de todo bem de tanta fé
Do canto o Candomblé

(Saulo Fernandes, na música Raiz de Todo Bem)

terça-feira, 28 de março de 2017

Gosto desse momento...

Karin Wells

“Gosto desse momento em particular, quando o mundo parece suspender seu curso, enquanto faz sua escolha entre a luz do dia nascente e a escuridão da noite que morre. Digo a mim mesma que talvez um dia a Terra não vai retomar sua rotação e se imobilizará para sempre enquanto a noite e o dia se instalarão, cada um deles em sua respectiva posição, mergulhando-nos numa aurora permanente. Digo a mim mesma, então, que, banhadas nessa luz crepuscular que dá um tom pastel a tudo, as guerras serão talvez menos horríveis; as fomes, menos insuportáveis; a paz, mais durável; as manhãs em que se dorme até tarde, mais insípidas; as noitadas, mais longas. E só o branco das minhas cerâmicas não mudará, seu brilho será conservado sob a luz fria dos néons.”

(Jean-Paul Didierlaurent, no livro O leitor do trem das 6h27)

segunda-feira, 27 de março de 2017

Enquanto o dia nascente...

Shane Sutton

“Enquanto o dia nascente se chocava contra os vidros embaçados, o texto vertia de sua boca num longo filete de sílabas, entrecortado aqui e ali de silêncios nos quais se precipitava o barulho do trem em movimento. Para todos os passageiros presentes na composição, ele era o leitor, um sujeito estranho que, todos os dias de semana, lia em voz alta e inteligível as poucas páginas retiradas de sua bolsa. Eram fragmentos de livros sem qualquer relação uns com os outros. O trecho de uma receita podia estar ao lado da página quarenta e oito do último vencedor do Goncourt, um parágrafo de romance policial podia seguir-se a uma página de um livro de história. Para Guylain, pouco importava o conteúdo. Só o ato de ler tinha importância a seus olhos. Ele expelia todos os textos com a mesma dedicação obstinada. E, a cada vez, a magia se operava. As palavras, ao sair de seus lábios, levavam com elas um pouco da náusea que o sufocava ao se aproximar da usina.”

(Jean-Paul Didierlaurent, no livro O leitor do trem das 6h27)

sexta-feira, 24 de março de 2017

Parece o teu coração...

Edward B. Gordon

Parece o teu coração
com plataforma de trem,
que mal despede os que vão
para abrigar os que vêm.

(Roberto Medeiros)

quinta-feira, 23 de março de 2017

Dia do Contador de Histórias


“Naquele tempo descobri que todo mundo gosta que alguém conte histórias. Todos querem sair da realidade um momento e viver esses mundos de ficção dos filmes, das radionovelas, dos romances. Gostam até que alguém lhes conte mentiras, se essas mentiras forem bem contadas. Essa é a razão do êxito dos embusteiros de fala hábil.”

(Hernán Letelier, no livro A contadora de filmes)

quarta-feira, 22 de março de 2017

Penso que todo mundo já chegou...



“Penso que todo mundo já chegou a ter essa sensação: quando você se dá conta de que irá morrer algum dia e que não vai dar tempo de ver aquele total de séries e filmes que gostaria. Ou, pior, quando você faz as contas do número de livros que é possível ler em uma vida inteira. Caso você leia pelo menos um livro por semana — o que é muito —, você faz 48 leituras por ano. Considerando que você viva até os 90 anos, mas tenha começado a ler semanalmente aos 15, a estimativa é que consiga ler somente 3.500 livros antes de morrer. Três mil e quinhentos! É angustiante. Não bastassem todos os clássicos do cinema e da literatura que vale a pena conhecer, novos filmes, livros e séries são lançados aos montes a cada ano.”

(Raphael Montes, escritor brasileiro)

terça-feira, 21 de março de 2017

Outono Sul - Primavera Norte

Harold Altman


“Abril nunca significou grande coisa para mim; já o outono, sim, parece ser a estação dos recomeços, a primavera; é exatamente assim que me sentia, sentado com Holly no parapeito da garagem de barcos. Pensei no futuro e falei do passado. Pois Holly queria saber da minha infância."

(Truman Capote, no livro Bonequinha de Luxo)


O marco inicial do outono é o belo momento do Equinócio de Outono, quando o dia e a noite duram o mesmo tempo: 12 horas. A grande maravilha da natureza é que nesse dia o mundo inteiro tem o mesmo tempo de sol e de lua, total igualdade e equilíbrio, pois, no hemisfério oposto, o Solstício de Primavera produz o mesmo fenômeno.
Como escreveu o grande Victor Hugo, mestre francês da literatura mundial: “Deus é o invisível evidente".
Portanto, feliz outono para o hemisfério sul e feliz primavera para o hemisfério norte!

21 de Março - Dia Mundial da Poesia

Arvid Frederick Nyholm


Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço…
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz…

(Miguel Torga, em Um poema, Diário XIII)

segunda-feira, 20 de março de 2017

Como acontecia todas as vezes...

Iris Schomaker

"Como acontecia todas as vezes que se aproximava da usina, a voz ríspida do velho Giuseppe ecoou em sua cabeça. “Você não é feito para isso, menino. Você ainda não sabe, mas não é feito para isso!” Ele sabia sobre o que o velho falava, o velho que não havia encontrado nada melhor que vinho barato para lhe dar coragem de continuar. Guylain não o ouvira, acreditando ingenuamente que a rotina acabaria resolvendo tudo. Que ela invadiria sua vida como uma bruma de outono e anestesiaria seus pensamentos. Mas, apesar dos anos, a náusea sempre voltava a atacar diante da muralha suja e decrépita. Atrás do muro, escondia-se a Coisa, bem protegida dos olhares. A Coisa que o esperava."

(Jean-Paul Didierlaurent, no livro O leitor do trem das 6h27)

sexta-feira, 17 de março de 2017

Você está pensando em...



“Você está pensando em fazer pós-graduação?”
“Sim, mas tenho medo de terminar a pós e perder a habilidade de falar inglês. Conheço uma mulher que está fazendo pós, amiga de uma amiga, e só de ouvi-la falar fico assustada. A dialética semiótica da modernidade intertextual. Não faz o menor sentido. Às vezes, acho que eles vivem num universo acadêmico paralelo, falando academiquês em vez de inglês, sem saber o que está acontecendo no mundo real.”
“É uma opinião bem forte.”
“Não sei como ter opiniões de outro tipo.”
Blaine riu e ela ficou feliz por tê-lo feito rir.”

(Chimamanda Ngozi Adichie, no livro Americanah)

quinta-feira, 16 de março de 2017

Estavam falando sobre política...

Mark Gingerish


Estavam falando sobre política americana certa vez e ela disse: “Gosto dos Estados Unidos. É o único lugar onde poderia viver, além daqui. Mas, um dia, um bando de amigos de Blaine e eu estávamos falando sobre crianças e eu me dei conta de que, se algum dia tiver filhos, não quero que tenham uma infância americana. Não quero que digam ‘oi’ para os adultos, quero que digam ‘bom dia’ e ‘boa tarde’. Não quero que murmurem ‘bem’ quando alguém perguntar como estão. Quero que digam, ‘estou bem, obrigado’ e ‘eu tenho cinco anos’. Não quero um filho que se alimenta de elogios, espera ganhar um prêmio por ter feito um esforço e desafia os adultos em nome da autoexpressão. Isso é horrivelmente conservador? Os amigos de Blaine disseram que é e, para eles, ‘conservador’ é o pior insulto que existe.”

(Chimamanda Ngozi Adichie, no livro Americanah)

quarta-feira, 15 de março de 2017

O sujeito tinha opinião...

Joseph Leyendecker

“O sujeito tinha opinião sobre tudo, opiniões formadas que havia muito Guylain tentava não contrariar mais. Durante um tempo, usara a retórica, tentando explicar ao jovem que nada era tão simples, que entre o preto e o branco existia toda uma gama de tons, do cinza mais claro ao mais escuro. Em vão. Guylain acabara se acostumando com a ideia de que Brunner era um idiota irrecuperável. Irrecuperável e perigoso. Lucien Brunner dominava com perfeição essa arte de zombar completamente da cara de alguém enquanto faz cortesias exageradas. De seus ‘Sr. Vignolles’, cheios de condescendência, emanava um desdém implícito. Brunner era uma cobra da pior espécie, pronta para picar ao menor passo em falso, e Guylain se esforçava incessantemente para manter distância, permanecer fora do alcance de suas presas. Para coroar a situação, esse babaca adorava o trabalho de carrasco.”

(Jean-Paul Didierlaurent, no livro O leitor do trem das 6h27)

terça-feira, 14 de março de 2017

14 de Março - Dia Nacional da Poesia


Poemas são para serem comidos. “Sou onívoro de sentimentos, de seres, de livros, de acontecimentos e de lutas”, dizia Neruda... “Comeria toda a terra. Beberia todo o mar...” “Persigo algumas palavras... Agarro-as no vôo... capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparando-me diante do prato, sinto-as cristalinas, ... vegetais, oleosas, como frutas, como azeitonas... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as...”

(Rubem Alves, no livro Pimentas, citando Neruda)

segunda-feira, 13 de março de 2017

Ifemelu não havia esquecido...

Belinda Del Pesco

Ifemelu não havia esquecido, mas lembrou de novo como ele era discreto, com seu jeans escuro simples, seus mocassins de couro, a maneira como entrou na livraria sem necessidade de dominar o lugar.
“Vamos nos sentar”, disse Obinze.

(Chimamanda Ngozi Adichie, no livro Americanah)

domingo, 12 de março de 2017

12 de Março - Dia do Bibliotecário

Robin Cheers

“Ler é central nas nossas vidas. A biblioteca é o nosso cérebro. Sem uma biblioteca, não há civilização.”

(Ray Bradbury, escritor estadunidense)

sexta-feira, 10 de março de 2017

Quando me angustio...

Arlene Cassidy

“Quando me angustio, vou para o refúgio. Nenhuma necessidade de viajar; ir juntar-me às esferas de minha memória literária é suficiente. Pois existe distração mais nobre, existe mais distraída companhia, existe mais delicioso transe do que a literatura?”

(A elegância do ouriço, de Muriel Barbery)

quinta-feira, 9 de março de 2017

É importante manter as ilusões...

Bramine Hubrecht

“É importante manter as ilusões e os projetos até o último momento. Lutar contra o tempo. Isso mantém o homem vivo, e isso tenho de sobra.”

(Mario Vargas Llosa, escritor peruano)

quarta-feira, 8 de março de 2017

8 de Março - Dia Internacional da Mulher

Paul Kelley

Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Hum! Hum!

Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Hum! Hum! Hum! Hum!
Minha força não é bruta
Não sou freira, nem sou puta

Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem

Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem

Ratatá! Ratatá! Ratatá!
Taratá! Taratá!

Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Hanhan! Ah! Hanran!
Fama de porra louca, tudo bem!
Minha mãe é Maria Ninguém
Hanhan! Ah! Hanran!

Não sou atriz, modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima

Ratatá! Ratatatá
Hiii! Ratatá
Taratá! Taratá!

(Pagu, Rita Lee)

terça-feira, 7 de março de 2017

O medo da solidão pode...

Gabriella Piccatto

“O medo da solidão pode nos tornar acessíveis, recomendava a mãe. Impor-se atento diante da solidão é questão de prudência. Quando a sede avança podemos beber da água do poço mais próximo, por concessão. É sensato sustentar a sede e alcançar a mina. Eu ansiava pelas primeiras águas, atravessando imenso deserto.”

(Bartolomeu Queirós, no livro Vermelho amargo)

segunda-feira, 6 de março de 2017

O vento que soprava...



“O vento que soprava nas Ilhas Britânicas estava impregnado do cheiro do medo de quem pedia asilo, infectando a todos com o pânico de uma catástrofe iminente. Assim, esses artigos eram escritos e lidos, de forma simples e histérica, como se seus autores vivessem num mundo onde o presente não tinha ligação com o passado e nunca tivessem considerado que esse era o curso normal da história: a chegada em massa à Inglaterra de negros vindos de países criados pelo Reino Unido. Mas Obinze entendia. Só podia ser reconfortante negar a história daquela maneira.”

(Chimamanda Ngozi Adichie, no livro Americanah)

sexta-feira, 3 de março de 2017

Ifemelu nem tinha certeza...

Maggie Siner

“Ifemelu nem tinha certeza se gostava do rapaz, que se chamava Rob e usava jeans rasgado e sujo, botas enlameadas e camisas de flanela amassadas. Ela não entendia o grunge, a ideia de andar todo esfarrapado porque você tinha dinheiro o suficiente para não precisar se vestir daquele jeito; aquilo zombava de quem era esfarrapado de verdade.”

(Chimamanda Ngozi Adichie, no livro Americanah)

quinta-feira, 2 de março de 2017

havia uma impaciência em seu tom...

Francois Schuitan


“... havia uma impaciência em seu tom, quase uma acusação, quando acrescentou que acadêmicos não eram intelectuais; não eram pessoas curiosas, apenas construíam tendas de conhecimento especializado e se mantinham dentro delas, seguros.”

(Chimamanda Ngozi Adichie, no livro Americanah)

quarta-feira, 1 de março de 2017

Aniversário do Rio de Janeiro

Antônio Orleans e Bragança

O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
O Rio de Janeiro, fevereiro e março

Alô, alô, Realengo
Aquele abraço!
Alô torcida do Fluminense
Aquele abraço

(Gilberto Gil, em Aquele Abraço)