“A decoração cor de creme do quarto de Papa mudava
todo ano, mas sempre para outro tom de creme. O tapete fofo que afundava quando
a gente pisava nele era creme sem nenhuma outra cor misturada; as cortinas
tinham um pequeno bordado marrom nas barras; as poltronas de couro cor de creme
estavam juntas, como se duas pessoas estivessem sentadas nela, tendo uma
conversa íntima. Todo aquele creme se misturava e fazia o quarto parecer maior,
como se nunca fosse acabar, como se você não pudesse correr nem que quisesse,
porque não havia para onde fugir. Sempre que eu pensava no paraíso quando era
criança, visualizava o quarto de Papa, macio, creme, infinito. Eu me aninhava
nos braços de Papa quando as tempestades do harmattan
se abatiam sobre o mundo lá fora, atirando mangas contra as redes das janelas e
fazendo os fios de alta-tensão bater uns contra os outros e soltar faíscas
laranja. Papa me colocava entre seus joelhos ou me embrulhava no cobertor cor
de creme que cheirava a lugar seguro.”
(Chimamanda Ngozi Adichie, no livro
Hibisco roxo)