“O homem é barro e sopro: o barro, que vem da terra; e o sopro, que vem de Deus. Ao primeiro compete a ciência, que alimenta o corpo, enquanto compete ao segundo a arte, que alimenta a alma. Disso bem sabia o primitivo, que criou a flecha, abatendo a primeira caça, e (criou) o estilete, pintando o primeiro quadro nas ásperas paredes da caverna.
O animal é dirigido pelas necessidades do corpo: não tem arte. O homem dirige o corpo com a alma: se é necessário saber para lucrar do ambiente os recursos de sobrevivência, é também necessário deixar sair a alma pelos dedos para que se obtenham a sensibilidade e o equilíbrio no momento decisivo e se possa adotar o comportamento mais humano, menos animal.
A ciência oferece a um tempo os recursos de vida e os de morte, servindo indiferentemente à guerra ou à paz, ao honesto e ao depravado: o homem faz a boa ou a má ciência. E como pode ele decidir-se corretamente por uma ou outra, se abandonar a fonte que disciplina as suas opções.
O homem sem ciência ainda é homem. Sem arte, deixou de sê-lo.”
(Pe. Antônio Vieira)