sábado, 20 de agosto de 2011

Muda Germinada de Jardins Alheios

Em meados do ano de 2008 eu li o livro A Arte de Reviver, de Manoel Carlos; uma coletânea deliciosa de crônicas suas publicadas ao longo de alguns anos na revista Veja Rio. Sempre gostei de Manoel Carlos, sendo fã de seus textos – gosto de sua forma de contar a vida, de falar das pessoas. A partir da leitura de seu livro, uma semente de ideia ficou plantada em minha cabeça.
Lá pelo final do livro tem uma crônica em que ele fala de um livro do escritor espanhol Adolfo Bioy Casares do qual ele gosta muito. O livro é nada mais nada menos que uma coletânea de frases, pequenas passagens, coisas engraçadas ou interessantes que o autor foi copiando e guardando ao longo da vida, até que um dia resolveu juntar tudo e publicar em um livro, maravilhosamente intitulado De Jardins Alheios. Escreveu Manoel Carlos na crônica: “... É uma obra-prima do efêmero, do fugaz, do transitório. O que vem a ser um livro assim? Um nada que é muita coisa. Não é romance, nem teatro ou poesia. Menos ainda um tratado sobre qualquer matéria. E no entanto é, ao mesmo tempo, tudo isso e mais alguma coisa.”
Essa crônica foi publicada na Veja Rio no dia 22 de janeiro de 2006 e consta no livro à pagina 209. Seis páginas adiante, Manoel Carlos traz uma segunda crônica, publicada na revista em 19 de fevereiro de 2006, com novas passagens do De Jardins Alheios, pois, segundo ele, a repercussão da primeira entre os leitores da revista foi muito grande e os pedidos de bis, inúmeros. Assim como os leitores da Veja Rio, eu também queria saber como encontrar o livro; Manoel Carlos esclareceu que ele não foi traduzido para o português e seria encontrado nas livrarias de Buenos Aires, para quem quisesse desfrutá-lo em espanhol. Em viagem à terra de Maradona e Messi, procurei em várias livrarias: livro esgotado.
Na época, não falava espanhol, mas, mesmo assim, queria ter o livro na estante, folheá-lo, quem sabe entender algumas coisas, ou me motivar a aprender espanhol (acabei aprendendo!!)... Enfim, queria admirar esse jardim, colher essas flores. Sempre tive o hábito de anotar frases, citações, trechos de livros (só leio com um marca-texto, um bloquinho e uma caneta ao lado) e tudo o mais que acho interessante. Germinei a semente da ideia de que falei no início e resolvi organizar minhas anotações e transformá-las no meu próprio jardim.
Comecei a pesquisar cadernos, agendas, diários antigos, desde os tempos da adolescência, pesquisar mais na internet, ficar mais atenta ao meu redor, às conversas e falas específicas dos amigos, família. Também mudei os critérios de seleção, pois todas as anotações antigas eram de coisas que eu gostava, com as quais concordava, que haviam me tocado; depois, passei a selecionar o que era simplesmente engraçado, absurdo, ideias que discordava, mas que eram interessantes, fortes. Amigos e familiares contribuíram, mesmo sem saber, com algumas pétalas para mim (assim, também tive como critério “flores alheias”). Foi um trabalho de garimpo, ou melhor, de lavratura, que acredito nunca ficará totalmente pronto, mas que precisa brotar. Afinal, nenhuma árvore nasce pronta!
Achei maravilhoso o título dado ao livro por Bioy Casares – De Jardins Alheios –, pois cada passagem daquela era uma flor colhida de alguém. Como meu projeto era declaradamente inspirado no dele, decidi intitulá-lo de Muda Germinada De Jardins Alheios. E aqui está o jardim em forma de blog: que tal?
Espero que minhas flores tenham sido tão bem colhidas e agradáveis quanto as dele. Mas aqui não posso deixar de lembrar Machado de Assis quando escreveu: “Nasci com certo orgulho, que já agora há de morrer comigo. Não gosto que os fatos nem os homens se me imponham por si mesmos. Tenho horror a toda superioridade. Eu é que os hei de enfeitar com dois ou três adjetivos, uma reminiscência clássica, e os mais galões do estilo. Os fatos, eu é que os hei de declarar transcendentes; os homens, eu é que os hei de aclamar extraordinários.” Portanto, nessa Muda Germinada De Jardins Alheios é você quem vai determinar o que merece seus adjetivos, o que é transcendente e quem é extraordinário. Eu já determinei por mim.
Espero que a primavera se instale no jardim de cada um de vocês ao navegar nestas postagens.
Abraço.
Janaina

Referência:
A Arte de Reviver - Crônicas, Manoel Carlos, Editora Ediouro, 2006, 234 páginas.

4 comentários:

  1. Naina, achei fantástica a sua iniciativa! E tambem, muito inspiradora! Parabens pelo jogo das palavras!Quando lembro que joguei tantas frases e anotações fora! Snif!
    Adorei o seu blog!
    Bjs
    Gaby

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  2. Que bom, Gaby!
    Então, aproveite, visite sempre o jardim, colha suas mudas, espalhe mudas por aí indicando o blog aos amigos...
    Se sobrou alguma das anotações sem jogar fora, mande pra mim! rs
    Bjs.

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  3. Adorooo esse blogger...sou suspeita pra falar! :)
    Será que acho o livro aqui no Mexico?
    bjo

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    1. Se achar, traga um pra mim!!! Obrigada por amar tanto nosso jardim. Bjs.

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