Armando Barrios
“Havia
dois tipos de mãe. As que, como a minha, passavam a serenidade de uma cama
feita, o respeito de uma mesa posta. Sob a supervisão de uma dessas avalistas
da ordem e da paz, eu podia dormir na casa de um amigo e até viajar com a
família dele num fim de semana, pois sabia que logo ali, no quarto ao lado,
estava uma embaixadora do país maternidade, em meio aos perigos da terra
estrangeira. Havia outras mães, porém, que desde cedo me despertavam
sentimentos ambíguos. Mães loiras. Mães ruivas. Mães de calças justas. Mães de
botas de couro. Mães com grandes brincos dourados, muito perfume e batom. Essas
mulheres tinham algo de subversivo que eu não conseguia apreender – como se
pudessem, antes do almoço, abrir um armário e dizer: ‘Olha quantos chocolates,
Antonio, vem comer esses chocolates comigo, vem?’. Diante delas, não me sentia
protegido ou cuidado: sentia-me tentadoramente desamparado.”
(Antônio Prata, no livro
Nú, de botas)
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