William Glackens
“Eu estava destinado a ser um grande editor”, diz a
Kaisa através do espelho, “mas sabe o que aconteceu? Não me tornei grande.
Perdi a ambição, perdi a fé. Minha ambição era minha fé. Uma pessoa sem fé não
é muito. Endurecido, isso sim, blindado. Um tanque. Olhe para nós, Kaisa. O que
somos? Pessoas sem fé. Ainda que tenhamos um ao outro. Eu flutuava pelo espaço,
não me apegava a ninguém. Até aquele momento em que você pegou na minha mão, lá
perto do semáforo. Então fiquei preso a você. É assim. Você poderia ter pegado
outra mão, mas pegou a minha. O que você pensou, Kaisa? O que viu quando eu
passei? Foi o meu chapéu? Já tinha falado com muitas pessoas naquele dia?”
Vai com ela para a cidade. Ela descalça, ele de
sandálias. Aqui e ali para num cruzamento e pergunta: “Para onde estamos indo,
Kaisa?” Ela então o puxa na direção que, de acordo com ela, é a melhor. Almoçam
num posto de gasolina e às quatro bebem uma Coca-Cola num clube de bilhar. De vez
em quando Hofmeester diz alguma coisa, sobre sua filha, seu trabalho, a África.
Kaisa escuta sem dizer nada.
(Arnon Grunberg, no livro Tirza)
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