Alexander Deineka
“Você já voltou há um tempo?”, disse Obinze. Estava
observando-a de novo e Ifemelu se lembrou de que, antigamente, muitas vezes
sentia que ele podia ler sua mente, que sabia coisas sobre ela que ela própria
podia não saber de forma consciente.
“Sim”, disse Ifemelu.
“Então você veio aqui comprar o quê?”
“O quê?”
“Que livro você queria comprar?”
“Na verdade, eu só queria encontrar você aqui.
Achei que, se ver você de novo acabasse sendo algo de que eu quisesse me
lembrar, então queria me lembrar de ter sido na Jazzhole.”
“Então queria se lembrar de ter sido na Jazzhole”,
repetiu ele, sorrindo, como se apenas Ifemelu pudesse ter inventado aquela
expressão. “Você continua honesta, Ifem. Graças a Deus.”
“Já acho que vou querer me lembrar disso.” O nervosismo
dela estava se dissipando; eles haviam passado depressa pelos momentos de
constrangimento necessários.
“Você precisa ir para algum lugar agora?”, perguntou
Obinze. “Pode ficar um pouco?” “Posso.”
Ele desligou os dois celulares. Era uma declaração
rara, numa cidade como Lagos, para um homem como ele, dar-lhe sua total atenção.
(Chimamanda Ngozi Adichie, no livro Americanah)
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