Ivan Kulikov
“Por fim, Mamoon abriu os olhos para dizer:
“Vivemos num país que só tem passado e nenhum futuro. Se sou conservador é
porque desejo conservar o que considero o caráter desse passado, da Inglaterra,
e do povo inglês. Sou imigrante, mas a Inglaterra é meu lar. Passei mais tempo
neste deserto de macacos, nesta democracia de asnos, do que em qualquer outro
lugar. Também tenho acompanhado sua comédia e sua tragédia com muito interesse.
Quando eu era criança a Grã-Bretanha era o país mais poderoso do planeta, seus
representantes eram temidos e admirados. Adoro o ceticismo que ele desenvolveu
nos anos 60, a maneira como as figuras políticas, longe de serem idealizadas,
como são muitas vezes em outros países, são avacalhadas e ridicularizadas sem
medo.
Porém agora, ao que parece, nós, escritores e
artistas não temos permissão para ofender. Não devemos questionar, criticar ou
insultar os outros, com medo de sermos perseguidos e assassinados. Hoje em dia,
um escritor sem guarda-costas dificilmente pode ser considerado um escritor
sério. Uma resenha ruim é o menor de nossos problemas. Qualquer idiota que
acredite em qualquer insanidade deve ser tratado com complacência, porque é seu
direito humano. O direito de falar é sempre usurpado, sempre condicional. Temo
que o jogo esteja quase encerrado para a verdade. As pessoas não a desejam; não
as ajuda a ficarem ricas.”
(Hanif Kureishi, no livro A última palavra)
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