Camille Engel
Antes o voo da ave,
que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal
que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece,
e assim deve ser,
O animal,
onde já não está
e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve,
o que não serve para nada.
A recordação
é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza
de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada,
e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa,
e ensina-me a passar!
(Alberto Caeiro, pseudônimo de Fernando Pessoa, no
poema Antes o voo da ave)
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