Maurice Denis
“Por mais que aquelas centenas de milhares de
pessoas amontoadas num espaço pequeno se empenhassem em estropiar a terra sobre
a qual se comprimiam, por mais que atravancassem a terra com pedras para que
nela nada crescesse, por mais que arrancassem qualquer capinzinho que
conseguisse abrir caminho para brotar, por mais que esfumaçassem o ar com
carvão e petróleo, por mais que cortassem árvores e expulsassem todos os
animais e pássaros – a primavera era a primavera, mesmo na cidade. O sol
aquecia, a relva crescia, reanimando-se, e reverdejava em toda parte onde não
fora arrancada, não só nos gramados dos bulevares, mas também entre as lajes de
pedra, e as bétulas, os álamos, as cerejeiras desdobravam suas folhas viscosas
e aromáticas, as tílias estufavam os brotos, que rebentavam; as gralhas, os pardais
e os pombos, na alegria da primavera, já preparavam os ninhos e as moscas
zumbiam junto às paredes, aquecidas pelo sol.”
(Liev Tolstoi, no livro
Ressurreição)
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