terça-feira, 13 de novembro de 2018

Por mais que aquelas centenas...

Maurice Denis

“Por mais que aquelas centenas de milhares de pessoas amontoadas num espaço pequeno se empenhassem em estropiar a terra sobre a qual se comprimiam, por mais que atravancassem a terra com pedras para que nela nada crescesse, por mais que arrancassem qualquer capinzinho que conseguisse abrir caminho para brotar, por mais que esfumaçassem o ar com carvão e petróleo, por mais que cortassem árvores e expulsassem todos os animais e pássaros – a primavera era a primavera, mesmo na cidade. O sol aquecia, a relva crescia, reanimando-se, e reverdejava em toda parte onde não fora arrancada, não só nos gramados dos bulevares, mas também entre as lajes de pedra, e as bétulas, os álamos, as cerejeiras desdobravam suas folhas viscosas e aromáticas, as tílias estufavam os brotos, que rebentavam; as gralhas, os pardais e os pombos, na alegria da primavera, já preparavam os ninhos e as moscas zumbiam junto às paredes, aquecidas pelo sol.”

(Liev Tolstoi, no livro Ressurreição)

Nenhum comentário:

Postar um comentário