João Baptista da Costa
“Vasto, dourado à luz do meio-dia, … o vale de
Araçoiaba era duma beleza forte e impressionante de paisagem sertaneja. Ao
fundo barravam-lhe a perspectiva, altas, abruptas, as serras de Baturité e do
Acarape, onde emergiam da verdura brancos telhados de granito, faiscando ao
sol. A glória luminosa do dia enchia tudo. Sob ela cintilavam os penhascos,
incendiam-se as micas, palhetavam-se de tons flavos as águas paradas de uma
lagoa ao longe. Aqui e ali uma grande árvore derramava sombra numa fachada
clara de casa matuta ou espargia frescura sobre um quintalejo benfeitorizado.
Pelo recosto do cerro descia em ondulações de veludo novo uma capoeira densa, de
fetos, de marmeleiros e ameixeiras bravas. Por tudo e em tudo, do alto azul do
céu à calma horizontal das águas empoçadas, do dorso corcovado dos montes às
extensões lisas da planície, sorria farta, orgulhosa, a pompa régia do inverno.
A terra tinha um nobre e calmo aspecto de abundância; o céu, um claro riso de
bondade e proteção.”
(Gustavo Barroso, em texto da antologia Flor do Lácio)
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