“Especialmente quando se é jovem, deve-se ler o
maior número possível de livros. Os excelentes, os não tão excelentes e até
aqueles insignificantes, que não têm (nenhum) problema. O importante é ler tudo
o que estiver ao alcance. Fazer passar pelo corpo o máximo de narrativas
possíveis. Encontrar textos maravilhosos e outros de menor qualidade. Passar
por essas experiências é o mais importante. Corresponde a criar a bagagem
indispensável para um romancista. Recomendo focar nessa etapa enquanto ainda se
tem uma visão boa e tempo de sobra. Escrever também deve ser importante, mas
tenho a impressão de que deve ser deixado para mais tarde, que não vai haver
nenhum problema.
Em seguida — provavelmente antes de começar a
escrever de fato — acho que é importante adquirir o hábito de observar
detalhadamente os acontecimentos e fenômenos à sua frente. Olhar com cuidado e
atenção as pessoas, enfim, tudo à volta. E refletir sobre tudo. Falei
“refletir”, mas não há necessidade de julgar as coisas, avaliar se estão
corretas ou não. As conclusões devem ser deixadas pendentes, e adiadas pelo
maior tempo possível. O importante não é chegar a uma conclusão, mas manter na
mente a imagem nítida das coisas do jeito que são, da forma mais próxima
possível da realidade, para que sirvam de material.”
(Haruki Murakami, no livro
Romancista como vocação)
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