“Don Juan era um conquistador. E com letras maiúsculas, mesmo. Um Grande Conquistador. Mas eu lhe pergunto: como se pode querer ser um conquistador numa terra onde ninguém resiste a nós, onde tudo é possível e onde tudo é permitido? A era dos don-juans está terminada. O atual descendente de Don Juan já não conquista, apenas coleciona. Ao personagem do Grande Conquistador sucede o personagem do Grande Colecionador (...) No mundo do Conquistador, um olhar contava muito mais do que contam, no mundo do Colecionador, dez anos do mais assíduo amor físico. Don Juan era um mestre, enquanto o Colecionador é um escravo. Don Juan transgredia com ousadia as convenções e as leis. O que o Grande Colecionador faz é apenas aplicar docilmente, com o suor do seu rosto, a convenção e a lei, pois colecionar faz parte das boas maneiras e é de bom-tom, colecionar é quase considerado um dever.”
(Milan Kundera, em Risíveis Amores)
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