“O
impulso que te faz voar é nosso grande patrimônio humano, comum a todos. É o
sentimento de relação com as raízes de todas as forças. Mas tememos
abandonar-nos a ele. É tão perigoso! Por isso, quase todos renunciam de bom
grado a voar e preferem caminhar, pela escala burguesa, apoiados nos preceitos
legais. Tu não. Tu continuas voando corajosamente. E, de súbito, descobres algo
maravilhoso: percebes que, pouco a pouco, te vais assenhorando do impulso e
que, junto com a magna força geral que te arrasta, há outra força minúscula e
sutil que te é própria: um órgão e um timão. Sem ela vaguearias ao acaso pelos
ares, como acontece, por exemplo, com os loucos. Eles têm vislumbres mais
profundos que os da escala burguesa; mas não possuem a chave, carecem de um
timão que os permita marcar o rumo e flutuam à deriva nos espaços. Mas tu não,
Sinclair; tu consegues...”
(Hermann Hesse, em Demian)
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