Anthony Stewart
“Bebeu mais um gole de vinho, com a nítida impressão
de que ia cometer um ato proibido. Uma transgressão. Um homem não remexe a
bolsa de uma mulher – até os povos mais atrasados devem obedecer a essa regra
ancestral. Os maridos de tanga seguramente não tinham o direito de ir procurar,
na bolsa de couro curtido de suas esposa, uma flecha envenenada ou uma raiz
para trincar. Laurent jamais abrira a bolsa de Claire, aliás nem mesmo a de sua
mãe quando ele era criança, nem a de nenhuma mulher. No máximo, tinha ouvido às
vezes: ‘Pegue as chaves na minha bolsa’, ou ‘Tem um pacote de lenços de papel
na minha bolsa, traz para mim’. Só havia metido a mão numa bolsa feminina com
uma autorização expressa, que aliás mais parecia uma ordem, e só era válida por
um período limitadíssimo: quando Laurent não encontrava as chaves ou os lenços
em menos de dez segundos e começava a fuxicar o conteúdo da bolsa, ela era
imediatamente recuperada pela proprietária. O gesto se fazia acompanhar de uma
frasezinha irritada, sempre no imperativo: ‘Me dê isso aqui!’, e as chaves ou o
pacote de lenços logo apareciam.”
(Antoine Laurain, no livro A caderneta
vermelha)
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