Laerte Agnelli
“Nenhum outro menino em seu círculo de conhecidos
tinha lido o que ele tinha lido e, como tia Mildred escolhia os livros
cuidadosamente para ele, assim como havia escolhido para a irmã, em seu período
de confinamento, treze anos antes, Ferguson lia os livros que ela mandava com uma
avidez que parecia fome física, pois sua tia compreendia quais livros iam dos
seis para os oito anos de idade, dos oito para os dez, dos dez para os doze — e
daí até o fim do ensino médio. Contos de fadas, para começar os Irmãos Grimm e
os livros muito coloridos compilados pelo escocês Lang, depois os fantásticos e
assombrosos romances de Lewis Carroll, George MacDonald e Edithh Nesbit,
seguidos pelas versões de mitos gregos e romanos escritas por Bulfinch, uma
adaptação infantil de Odisseia, A teia de Charlotte, uma adaptação de As mil e uma noites, remontadas com o
título de As sete viagens de Simbad, o
Marujo, e mais adiante, uma seleção de seiscentas páginas de As mil e uma noites originais, e no ano
seguinte O médico e o monstro, contos
de horror e mistério de Poe, O príncipe e
o mendigo, Raptado, Um conto de Natal, Tom Sawyer e Um estudo em vermelho, e a reação de
Ferguson foi tão forte ao livro de Conan Doyle que o presente que ele ganhou da
tia Mildred em seu décimo primeiro aniversário foi uma edição imensamente
gorda, abundantemente ilustrada, de Histórias
Completas de Sherlock Holmes.”
(Paul Auster, no livro 4321)
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