Mauro Cano
“De
fato, uma mocinha tem ilusões demais, inexperiência demais, e o sexo é cúmplice
demais de seu amor para que um rapaz possa se sentir lisonjeado; ao passo que
uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios a fazer. Ali onde uma é
arrastada pela curiosidade, por seduções alheias à do amor, a outra obedece a
um sentimento consciencioso. Uma cede, a outra escolhe. Essa escolha já não é
uma imensa lisonja? Armada de um saber quase sempre pago pelo alto preço das
infelicidades, a mulher experimentada, ao se dar, parece dar mais que a si
mesma; ao passo que a mocinha, ignorante e crédula, nada sabendo, não pode
comparar nada, apreciar nada; aceita o amor e o estuda. Uma nos instrui,
aconselha-nos numa idade em que amamos nos deixar guiar, em que a obediência é
um prazer; a outra quer aprender tudo e mostra-se ingênua ali onde a outra é
carinhosa. Aquela nos apresenta senão um triunfo, esta nos obriga a combates
perpétuos. A primeira tem apenas lágrimas e prazeres, a segunda tem volúpias e
remorsos. Para que uma mocinha seja amante, deve ser depravada demais, e então
a abandonamos com horror; ao passo que uma mulher tem mil meios de conservar ao
mesmo tempo seu poder e sua dignidade.”
(Honoré de Balzac, em A mulher de
trinta anos)
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