Edvard Munch
“Não
tinha amigos, pela primeira vez em sua vida teve consciência de sua solidão. Às
vezes, de noite em seu sótão, erguia os olhos de um livro que estava lendo e
espiava os cantos escuros de seu quarto, onde a luz do lampião tremulava contra
as sombras. Se olhasse fixo e atentamente, a escuridão se reuniria numa luz,
que assumia a forma insubstancial do que estivera lendo. E ele sentia que estava
fora do tempo, como sentira naquele dia na aula em que Archer Sloane falara com
ele. O passado avolumava-se da escuridão onde jazia, e os mortos se erguiam
para viver à sua frente, e juntos, fluíam para o presente entre os vivos, e
assim, por um intenso instante, ele tinha a sensação de unir-se a eles numa
única e densa realidade da qual não podia escapar. Tristão, Isolda a bela,
caminhavam à sua frente; Helena, e o brilhante Paris, seus rostos graves de
amargura, erguiam-se da treva. E Stoner se sentia mais próximo deles do que de
seus colegas que iam de aula em aula, hospedados numa grande universidade em
Columbia, no Missouri, e que caminhavam distraídos em meio ao ar do Midwest.”
(Stoner,
de John Williams)
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