“Às vezes, estudando as gentes de Santa Fé,
comparando-as com as outras pessoas que conhecera em outros recantos da
Província, estendendo o olhar para os horizontes que por assim dizer cercavam
aquelas vastas campinas em derredor do povoado, o pe. Lara ficava a pensar no que
seria aquela população dali a cem anos... A vida para ele não era fácil nem
agradável, por causa da asma, mas gostaria de poder durar tanto como Matusalém
para ver que resultado teria aquela mistura de raças que se estava processando
na Província de São Pedro. Sabia que era uma espécie de tradição entre os
Amarais fazer filhos nas escravas, produzir mulatos e mulatas, que por sua vez
depois se cruzavam com brancos, índios ou pretos. Os brancos gostavam muito das
índias. O padre ouvira dizer que as mulheres índias se entregavam aos índios
por obrigação, aos brancos por interesse e aos negros por prazer. Agora —
refletia ele — aquele moço de sangue açoriano ia casar-se com a filha de Joca
Rodrigues, que era um paulista neto de portugueses do Minho. Fazia já mais de
quatro anos que tinham chegado à Feitoria do Linho-Cânhamo, às margens do rio
dos Sinos, centenas e centenas de colonos alemães. No futuro os filhos desses
imigrantes haveriam de fatalmente casar-se com as gentes da terra e o sangue
alemão se misturaria com o português, o índio e o negro. Para produzir... o
quê?”
(Érico Veríssimo, no livro Um certo capitão Rodrigo)
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