sexta-feira, 28 de abril de 2017

28 de Abril - Dia da Educação

Armand Guillaumin

“Nunca se espera que pessoas responsáveis por banheiros públicos, quaisquer que sejam, mantenham um diário digitando no teclado de seu laptop. Devemos servir só para limpar de manhã até a noite, polir as peças cromadas, esfregar, enxaguar, reabastecer os suportes de papel higiênico e mais nada. Espera-se que uma zeladora de banheiro limpe, não que escreva. As pessoas podem conceber que eu faça palavras cruzadas, caça-palavras, palavras trancadas em todo tipo de tabela quadriculada. Essas mesmas pessoas também podem aceitar que eu leia fotonovelas, revistas femininas e de televisão nas horas vagas, mas se sentem insultadas quando sabem que eu digito com meus dedos feridos pela água sanitária no teclado de um laptop a fim de registrar meus pensamentos. Pior, ficam desconfiadas. Há um tipo de mal-entendido, um erro na escalação do elenco. No mundo inferior, até um infeliz computador de dez polegadas ligado ao lado de um pratinho para gorjetas sempre acaba maculando a paisagem. Ah! Tentei muito usar meu laptop, mas logo nas primeiras tentativas via no olhar das pessoas, às vezes indignadas, que isso não ficava nada bem, que havia incompreensão e constrangimento, até rejeição diante dessa situação anormal. Precisei rapidamente me render à evidência de que as pessoas em geral só esperam uma coisa: que você ofereça a imagem daquilo que elas querem que você seja. E reprovavam especialmente a imagem que eu propunha a elas. Era uma visão do mundo superior, uma visão de que não havia nada a se fazer aqui. Agora, se há uma lição que aprendi bem em quase vinte e oito anos de existência na Terra é que o hábito deve fazer o monge, e pouco importa o que a batina esconde. Desde então, eu iludo, eu engano. O computador fica fora de vista, sabiamente guardado em sua capa ao pé da minha cadeira. É mais fácil que deixem uma moeda para uma jovem tentando arduamente resolver o jogo de sete erros da última revista da moda, mordendo a ponta da caneta, do que para essa mesma mulher mergulhada na contemplação da tela luminosa de seu laptop de última geração. Colocar-se sabiamente na fôrma, vestir esse traje de zeladora de banheiro, tarefa pela qual me pagam, e desempenhar o papel ajustando-se ao texto: é mais fácil para todo mundo, a começar por mim. E, depois, isso tranquiliza as pessoas. Como minha tia sempre diz, tialogismo número onze: ‘Um cliente tranquilo será sempre mais generoso’. (...)
Com o tempo, aprendi a escrever sem parecer que estou escrevendo. Preencho meus blocos de anotação diante da frágil mesinha que me serve de escrivaninha, rabisco as páginas em meio à profusão de papel acetinado das revistas à minha frente. Avanço aos pouquinhos. Não se passa um dia sem que eu escreva. Não fazê-lo seria como não ter vivido esse dia, ter me limitado a esse papel de limpadora-de-xixi-cocô-vômito que querem que eu assuma, uma pobre moça que tem como única razão de viver essa função trivial pela qual lhe pagam.”

(Jean-Paul Didierlaurent, no livro O leitor do trem das 6h27)

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