Angelo Batti
"Dar a
mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria. Muitas vezes antes de
adormecer – nessa pequena luta por não perder a consciência e entrar no mundo
maior – muitas vezes, antes de ter a coragem de ir para a grandeza do sono,
finjo que alguém está me dando a mão e então vou, vou para a enorme ausência de
forma que é o sono. E quando mesmo assim não tenho coragem, então eu sonho.
Ir para
o sono se parece tanto com o modo como agora tenho de ir para a minha
liberdade. Entregar-me ao que não entendo será pôr-me à beira do nada. Será ir
apenas indo, e como uma cega perdida num campo. Essa coisa sobrenatural que é
viver. O viver que eu havia domesticado para torná-lo familiar. Essa coisa
corajosa que será entregar-me, e que é como dar a mão à mão mal-assombrada do
Deus, e entrar por essa coisa sem forma que é um paraíso. Um paraíso que não
quero!"
(Clarice Lispector, no livro A paixão segundo G.H.)
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