Pietro Marussig
“Passei minha adolescência com esta sensação: a de
que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não
tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado
e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma
hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.
As festas em outros apartamentos são fruto da nossa
imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias.
Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias,
revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica
parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na
verdade a festa lá fora não está tão animada assim. Ao amadurecer, descobrimos
que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no
mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar
no escuro, alternadamente.”
(Martha Medeiros, escritora brasileira)
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