Orlando Brito
“A cidade sustentava-se por seus ares de domingo.
Aparentemente lerda, se alicerçava sobre secretos sussurros. As casas dormiam
no colo de um mentiroso silêncio. Havia, contudo, as frestas das janelas por
onde se perscrutava o vizinho. Atrás das portas se escutavam assombros que se
supunham segredos. E todas as vidas se viam apregoadas em tom de confidências.
As intimidades eram sopradas de ouvido em ouvido e alteradas de boca em boca.
Mentiras sobre mentiras. O orvalho, ao cair manso, não refrescava as invejas.
Uma cidade afetuosamente cruel.”
(Bartolomeu Queirós, no livro Vermelho amargo)
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