“Ao apagar das luzes todos se endireitavam e
ficavam duros na frente da tela. Eu não. Eu virava a cabeça para ver aparecer o
raio de luz que saía pelas janelinhas do quartinho de projeção e percorria o
espaço sobre nós até se chocar com a tela e explodir em imagens e sons. E
muitas vezes, quando o filme não era interessante de verdade do jeito que eu
esperava (muita conversa e pouca ação), eu deixava de ver a tela para
contemplar, encantada, aquele feixe mágico de pó luminoso. Eu achava um
prodígio que aquele jorro de luz pudesse transportar coisas tão impressionantes
como trens perseguidos por índios a cavalo, barcos de piratas em mares de
tormenta e dragões verdes exalando fogo por suas sete cabeças. E naquele tempo
eu pensava que por ali fluía também a voz, o estampido dos tiros, as canções
tão bonitas dos mariachis dos filmes
mexicanos. Depois, aprendi que não.”
(Hernán Letelier, no livro A contadora de
filmes)
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