René Exumé
“A verdade é que ainda persiste em Portugal uma
certa saudade imperial e, sobretudo, uma enorme ignorância no que diz respeito
à história do próprio idioma. É sempre bom recordar que antes de Portugal
colonizar a África, os africanos colonizaram a Península Ibérica durante
oitocentos anos. A língua portuguesa deve muito ao árabe. A partir do século
XVI, com a expansão portuguesa, a língua começa a enriquecer-se, incorporando
vocábulos bantos e ameríndios, expressões e provérbios dessas línguas, etc.. A
minha língua é esta criação coletiva de brasileiros, angolanos, portugueses,
moçambicanos, caboverdianos, santomenses, guineenses e timorenses. A minha
língua é uma mulata feliz, fértil, generosa, que namorou com o tupi e com o
ioruba, e ainda hoje se entrega alegremente ao quimbundo, ao quicongo ou ao
ronga, se deixando engravidar por todos esses idiomas.”
(José Eduardo Agualusa,
escritor angolano, em Um Brinquedo de Criar Prodígios, publicado em O Globo,
30/03/2015)
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