“A mulher da sombrinha vermelha tinha na carne uma
educação exemplar. Aprendera na cartilha das abelhas, e de um tudo só retirava
o mel, eu pensava. Sua boca só existia para o açúcar. O amargo, não soube em
que lugar guardava. Duvidava da existência de uma vida inteiramente doce. Ela
não sabia ler cartas, mas decifrava outros enigmas: um rosto triste, uma mão
vazia, uma sombra no olhar. Fazia a saia dialogar com a blusa, a jarra
conversar com as flores. Compreendia a solidão que o macarrão exigia. Dia de macarronada
só comia macarronada. De tudo dispensava o supérfluo. Fazia do tomate rosas
para decorar o arroz, em dia de festa.”
(Bartolomeu Queirós, no livro Vermelho
amargo)
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