Karin Wells
“Gosto desse momento em particular, quando o mundo
parece suspender seu curso, enquanto faz sua escolha entre a luz do dia
nascente e a escuridão da noite que morre. Digo a mim mesma que talvez um dia a
Terra não vai retomar sua rotação e se imobilizará para sempre enquanto a noite
e o dia se instalarão, cada um deles em sua respectiva posição, mergulhando-nos
numa aurora permanente. Digo a mim mesma, então, que, banhadas nessa luz
crepuscular que dá um tom pastel a tudo, as guerras serão talvez menos
horríveis; as fomes, menos insuportáveis; a paz, mais durável; as manhãs em que
se dorme até tarde, mais insípidas; as noitadas, mais longas. E só o branco das
minhas cerâmicas não mudará, seu brilho será conservado sob a luz fria dos
néons.”
(Jean-Paul Didierlaurent, no livro O leitor do trem das 6h27)
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