quinta-feira, 20 de junho de 2013

O dono da casa levantou-se...


“O dono da casa levantou-se para fazer um toste. Na mão um pequeno chifre trabalhado, a borda e o bico incrustados de prata, com vodca até a boca. Jorge me disse: ‘Certamente ele agora vai contar uma história’.
Em Moscou, Ilia Ehrenburg nos falara da tradição georgiana de brindar usando a moral de uma história contada no momento. Ele próprio nos contara várias e lindas.
O presidente do colcós esperou que fizessem silêncio e começou:
˗̶  Vou contar-lhes uma história que ouvi de meu avô. É uma história muito antiga...
Repetiu então o que ouvira dos lábios do ‘deduchka’ – assim que referia ao avô: história do forasteiro que visitara, pela primeira vez, um cemitério georgiano. Acompanhado de um velho coveiro, o homem começou a ler as inscrições nas lápides das sepulturas: ‘Aqui jaz Dimitri Ignatiev, nascido em 1700 e falecido em 1780 – viveu dez anos’. Ao lado, em outra campa, estava escrito: ’Aqui jaz Ludmila Kuteitchkova, nasceu em 1720 e faleceu em 1750 – viveu cinco anos’. Em outra sepultura se encontrava aquele que nascera em 1800 e morrera em 1840 e vivera apenas dois anos. Como se explicava aquilo? Em todas as inscrições que lera encontrara, com surpresa, o disparate dos cálculos; todos eles errados, os números não correspondiam, não coincidiam, entre a data de nascimento e a da morte do indivíduo. Intrigado e curioso, quis uma explicação e o velho coveiro, prontamente, a deu: ‘O homem só vive o tempo da amizade’.
˗̶  Brindemos, pois, à amizade! – concluiu o colcosiano.”

(Zélia Gattai, em Senhora Dona do Baile)

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