“O dono da casa levantou-se para fazer um toste. Na mão um pequeno chifre trabalhado, a borda e o bico incrustados de prata, com vodca até a boca. Jorge me disse: ‘Certamente ele agora vai contar uma história’.
Em
Moscou, Ilia Ehrenburg nos falara da tradição georgiana de brindar usando a
moral de uma história contada no momento. Ele próprio nos contara várias e
lindas.
O
presidente do colcós esperou que fizessem silêncio e começou:
˗̶
Vou contar-lhes uma história que ouvi de meu avô. É uma história muito
antiga...
Repetiu
então o que ouvira dos lábios do ‘deduchka’ – assim que referia ao avô:
história do forasteiro que visitara, pela primeira vez, um cemitério georgiano.
Acompanhado de um velho coveiro, o homem começou a ler as inscrições nas
lápides das sepulturas: ‘Aqui jaz Dimitri Ignatiev, nascido em 1700 e falecido
em 1780 – viveu dez anos’. Ao lado, em outra campa, estava escrito: ’Aqui jaz
Ludmila Kuteitchkova, nasceu em 1720 e faleceu em 1750 – viveu cinco anos’. Em
outra sepultura se encontrava aquele que nascera em 1800 e morrera em 1840 e
vivera apenas dois anos. Como se explicava aquilo? Em todas as inscrições que
lera encontrara, com surpresa, o disparate dos cálculos; todos eles errados, os
números não correspondiam, não coincidiam, entre a data de nascimento e a da
morte do indivíduo. Intrigado e curioso, quis uma explicação e o velho coveiro,
prontamente, a deu: ‘O homem só vive o tempo da amizade’.
˗̶
Brindemos, pois, à amizade! – concluiu o colcosiano.”
(Zélia
Gattai, em Senhora Dona do Baile)
Que lindo! Cadê o botão compartilhar? :)
ResponderExcluirAcho que pode usar o Google+
ResponderExcluir