segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Termina Agosto…


Termina Agosto… A pitangueira flora…
A úmbela verde cobre-se de alvura;
E, antes que Setembro finde a aurora,
Enrubesce a pitanga… Está madura.
(...)
Do fruto, às vezes, roxo como o espargo,
A polpa tem um travo doce-amargo,
— O sabor da Saudade, amargo e doce…

(Palmira Wanderley, porta potiguar)

sábado, 29 de agosto de 2015

Até aquele momento, o verbo ceder...

Vittorio Matteo Corcos

“Até aquele momento, o verbo ceder era palavrão em meu dicionário da independência feminina. Precisei ir a um dos extremos do mundo para apreciar a beleza de abrir mão de suas referências pelas do outro...”

(Ana Paula Padrão, em O Amor Chegou Tarde em Minha Vida)

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O que eu parecia e mostrava ser...

Tomás Santa Rosa

“O que eu parecia e mostrava ser – pensei – nunca o havia sido, nem um único minuto da minha vida. Não o havia sido na escola, nem na universidade, nem no consultório. Será que com os outros acontecia o mesmo? Será que ninguém se reconhece no seu exterior? Será que a imagem refletida lhes parece um cenário de demonstrações grosseiras? Será que se apercebem com horror de um abismo que se abre entre a percepção que os outros têm deles e a forma como eles se veem? Que a intimidade interior e a intimidade exterior podem afastar de tal maneira que acaba por tornar-se quase impossível considerá-las como intimidade com o mesmo ser? A distância em relação aos outros para a qual nos transporta essa consciência torna-se ainda maior quando compreendemos que a nossa imagem exterior não surge aos outros como aos nossos próprios olhos. Não vemos as pessoas como vemos casas, árvores ou estrelas. Vemo-las na expectativa de as encontrarmos de uma determinada maneira, transformando-as, assim, em um pedaço da própria interioridade. A força da imaginação forma-as de maneira que estejam de acordo com os próprios desejos e as próprias esperanças, mas também de modo a que nelas se confirmem os nossos próprios temores e preconceitos.”

(Mercier Pascal, em Trem Noturno Para Lisboa)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A maior riqueza do homem...

Françoise Collandre


A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.

(Manoel de Barros, poeta mato-grossense, em Retrato do artista quando coisa)

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Deus ao mar...

Lambert Kriedemann

“Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu.”

(Fernando Pessoa, poeta português)