domingo, 7 de setembro de 2014

Se pudéssemos fazer uma terapia...


“Se pudéssemos fazer uma terapia de grupo entre países, surgiriam comportamentos reveladores durante as sessões. Haveria aquele país que mal notaria a existência dos outros, como a França, talvez os Estados Unidos. A Alemanha se seguraria calada, sofrendo de culpa, desconfortável consigo e com os colegas ao redor. Uma quarentona insone, em crise por não ser tão rica e atraente quanto no passado, representaria muito bem a Argentina. Claro que haveria também países menos problemáticos, como o Chile ou a Suíça, contentes com a sua pouca relevância. Não seria o caso do Brasil, paciente que sofreria de diversos males psicológicos. Bipolar, oscilaria entre considerações muito negativas e muito positivas sobre si próprio. Obsecado com sua identidade, em todas as sessões aborreceria os colegas perguntando “Quem sou eu?”, “Que imagem eu devo passar?”, “O que me diferencia de vocês?”. Muito mais do que entre habitantes de outras pátrias, a identidade nacional foi sempre um problema psicanalítico no Brasil. Construída sob traumas, a imagem que os brasileiros têm de si próprios oscilou entre extremos.”

(Leandro Norlach, em Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil)

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