segunda-feira, 15 de junho de 2015

Palavras num silêncio de ouro...


“Palavras num silêncio de ouro. Quando leio o jornal, escuto rádio ou presto atenção no que as pessoas me dizem no café, sinto cada vez mais um enfado, um asco mesmo das palavras sempre iguais que são escritas ou ditas, sempre as mesmas expressões, sempre os mesmos floreios, as mesmas metáforas. O pior é quando escuto a minha própria voz e constato que também eu digo sempre as mesmas coisas. Essas palavras estão terrivelmente gastas e usadas, esgotadas pelos milhões de vezes em que foram usadas. Terão ainda algum significado? Claro, a troca de palavras continua funcionando, as pessoas agem de acordo, riem e choram, viram para a esquerda ou para a direita, o garçom traz o café ou o chá. Mas não é o que eu quero questionar. A questão é: será que elas ainda exprimem pensamentos? Ou apenas formações sonoras que impelem as pessoas de um lado para o outro porque iluminam os traços de uma eterna tagarelice?.”

(Mercier Pascal, em Trem Noturno Para Lisboa)

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