quarta-feira, 14 de outubro de 2015

De fato, uma mocinha tem ilusões...

Mauro Cano

“De fato, uma mocinha tem ilusões demais, inexperiência demais, e o sexo é cúmplice demais de seu amor para que um rapaz possa se sentir lisonjeado; ao passo que uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios a fazer. Ali onde uma é arrastada pela curiosidade, por seduções alheias à do amor, a outra obedece a um sentimento consciencioso. Uma cede, a outra escolhe. Essa escolha já não é uma imensa lisonja? Armada de um saber quase sempre pago pelo alto preço das infelicidades, a mulher experimentada, ao se dar, parece dar mais que a si mesma; ao passo que a mocinha, ignorante e crédula, nada sabendo, não pode comparar nada, apreciar nada; aceita o amor e o estuda. Uma nos instrui, aconselha-nos numa idade em que amamos nos deixar guiar, em que a obediência é um prazer; a outra quer aprender tudo e mostra-se ingênua ali onde a outra é carinhosa. Aquela nos apresenta senão um triunfo, esta nos obriga a combates perpétuos. A primeira tem apenas lágrimas e prazeres, a segunda tem volúpias e remorsos. Para que uma mocinha seja amante, deve ser depravada demais, e então a abandonamos com horror; ao passo que uma mulher tem mil meios de conservar ao mesmo tempo seu poder e sua dignidade.”

(Honoré de Balzac, em A mulher de trinta anos)

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