Ladyce West
“A vida, na verdade, assemelha-se a um navio — isto
é, ao interior de um navio, com seus compartimentos estanques. Emergimos de um
deles, selamos e trancamos as portas, e nos encontramos dentro de outro. Minha
vida, desde que deixamos Southampton até o dia em que regressamos à Inglaterra,
foi um desses compartimentos. Desde então sinto sempre a mesma coisa em relação
a viagens. Passamos de uma maneira de viver a outra. Decerto, continuamos os
mesmos mas somos ao mesmo tempo diferentes. A nova personalidade
desembaraçou-se das centenas de teias de aranha e fios que nos envolvem como um
casulo na vida do dia a dia doméstico: cartas a escrever, contas a pagar,
tarefas a cumprir, amigos que queremos visitar, fotografias para revelar,
roupas para cerzir, nurses, e
empregadas a aplacar, vendedores e lavanderias a censurar! A vida em viagem é
da essência do sonho. É algo fora do normal e, no entanto, faz parte da nossa
vida. Está povoada de pessoas que jamais havíamos visto e que, segundo todas as
probabilidades, jamais veremos de novo. Pode acontecer, eventualmente, em
viagem, algo aborrecido, tal como o enjôo e a solidão, a saudade de alguém a
quem amamos muito, (…). Mas nos sentimos como os vikings ou os mestres
marinheiros da era elisabetana, que entraram num mundo de aventura, e o lar só
é lar quando regressamos.”
(Agatha Christie, no livro Autobiografia)
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