sábado, 22 de abril de 2017

22 de Abril - Descobrimento do Brasil


“Às vezes, estudando as gentes de Santa Fé, comparando-as com as outras pessoas que conhecera em outros recantos da Província, estendendo o olhar para os horizontes que por assim dizer cercavam aquelas vastas campinas em derredor do povoado, o pe. Lara ficava a pensar no que seria aquela população dali a cem anos... A vida para ele não era fácil nem agradável, por causa da asma, mas gostaria de poder durar tanto como Matusalém para ver que resultado teria aquela mistura de raças que se estava processando na Província de São Pedro. Sabia que era uma espécie de tradição entre os Amarais fazer filhos nas escravas, produzir mulatos e mulatas, que por sua vez depois se cruzavam com brancos, índios ou pretos. Os brancos gostavam muito das índias. O padre ouvira dizer que as mulheres índias se entregavam aos índios por obrigação, aos brancos por interesse e aos negros por prazer. Agora — refletia ele — aquele moço de sangue açoriano ia casar-se com a filha de Joca Rodrigues, que era um paulista neto de portugueses do Minho. Fazia já mais de quatro anos que tinham chegado à Feitoria do Linho-Cânhamo, às margens do rio dos Sinos, centenas e centenas de colonos alemães. No futuro os filhos desses imigrantes haveriam de fatalmente casar-se com as gentes da terra e o sangue alemão se misturaria com o português, o índio e o negro. Para produzir... o quê?”

(Érico Veríssimo, no livro Um certo capitão Rodrigo)

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