domingo, 12 de janeiro de 2020

Na indolência de um domingo...

Joel Firmino do Amaral

Na indolência de um domingo de verão,
quando o sol cerceia o movimento e o calor detém a brisa,

Quando o bafo quente das calçadas se ergue lento,
envolve o corpo e reprime pensamentos,

Quando a inércia paralisa insetos,
cala pássaros, esconde peixes,

No meio da tarde indiferente,
preguiçosa, frouxa e incandescente,

Um solitário acordeon se faz ouvir.

É gemido desditoso, lamento sofrido.
Queixume penoso.

No ar estagnado do bairro,
por entre casas sonolentas e mudas torres de igrejas,

por cima do asfalto amolecido das ruas,
mascarando o borbulhar do riacho,

vibram notas saudosas, melodias sofridas,
canções de outras eras, de outras terras.

Gemidas.

A nostalgia se espalha.
Manta transparente, que envolve.
Aderente.

Libação sonora, suadouro enlutado,
carpindo na tarde.

Canto solitário de imigrante europeu,
Chora a terra, a distância,
a perda do lugar em que nasceu.

(Ladyce West, no poema O som mais triste…)

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