sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Nada restará depois das águas...

Raimundo Botelho

Nada restará depois das águas.

São assim as tempestades
que vêm quando menos se espera
ou quando mais se procura.

Nada sobrará desses barulhos
de raios, fogo e trovões aflitos,
corações aos gritos, a treva lá fora.

Nada restará deste silêncio,
além do pingo choroso na torneira.

Pouco a se fazer depois dos tombos:
desentupir os ralos, enterrar os mortos,
secar os panos e fechar as janelas.

Por fim seguir aos trancos e trancos,
até a queda do próximo barranco
— sem contornos, sem encostas.

(Luís Pimentel, no poema Tempestades)

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