domingo, 8 de maio de 2016

2º Domingo de Maio - Dia das Mães

Armando Barrios

“Havia dois tipos de mãe. As que, como a minha, passavam a serenidade de uma cama feita, o respeito de uma mesa posta. Sob a supervisão de uma dessas avalistas da ordem e da paz, eu podia dormir na casa de um amigo e até viajar com a família dele num fim de semana, pois sabia que logo ali, no quarto ao lado, estava uma embaixadora do país maternidade, em meio aos perigos da terra estrangeira. Havia outras mães, porém, que desde cedo me despertavam sentimentos ambíguos. Mães loiras. Mães ruivas. Mães de calças justas. Mães de botas de couro. Mães com grandes brincos dourados, muito perfume e batom. Essas mulheres tinham algo de subversivo que eu não conseguia apreender – como se pudessem, antes do almoço, abrir um armário e dizer: ‘Olha quantos chocolates, Antonio, vem comer esses chocolates comigo, vem?’. Diante delas, não me sentia protegido ou cuidado: sentia-me tentadoramente desamparado.”

(Antônio Prata, no livro Nú, de botas)

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