quinta-feira, 28 de julho de 2016

Havia ainda uma loura de tailleur...

Lesser Ury

“Havia ainda uma loura de tailleur cinza a duas mesas de distância, lendo uns documentos. Por duas vezes, ergueu a cabeça para Laurent, tragando seu cigarro Vogue com uma expressão inspirada. Fazia bem o gênero dessas mulheres que sabem suscitar instantaneamente o interesse dos homens com dois sorrisos, só o tempo de lhes pedir a pimenta ou o saleiro. Garçom, não tenho açúcar aqui, disse ela em voz alta, pode me trazer? Laurent, que não tinha usado sua dose de açúcar, nem sequer ergueu os olhos do livro, e o garçom pousou o açucareiro sobre a mesa da mulher. Não deu certo, pensei sorrindo. Como a maioria dos homens não propriamente bonitos mas sedutores, Laurente não tem a menor consciência do seu charme. A mulher foi embora sem colocar sequer um grãozinho de açúcar em seu café.
Tenho medo de que esse homem me agrade.”

(Antoine Laurain, no livro A caderneta vermelha)

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